7 de dezembro de 2008

O cachorro do vizinho

Há três anos moro na mesma rua, mas tenho pouco contato com os vizinhos e nenhum amigo por aqui. A gente inventa desculpas, diz que é falta de tempo ou os desencontros de horário, mas a verdade é que nem sempre queremos dar intimidade àqueles que, por força da localização, já vigiam nossos passos diários e sabem da nossa vida antes mesmo de contarmos.

Muitos dos meus vizinhos têm cachorros, a maioria cães de guarda. Além dos altos muros, portões, grades e cercas elétricas, algumas casas chegam a ter mais de um cachorro. Então, se desço a rua um pouco mais perto dos portões ou se faço algum barulho ou movimento brusco, é um coral canino enlouquecido que me acompanha portão a portão até eu chegar em casa.

Ainda que alguns vizinhos ignorem a minha existência ou mesmo finjam não me ver subindo ou descendo a rua todos os dias, seus cachorros sempre me cumprimentam. No início era somente hostilidade e eu os temia mesmo presos às suas correntes. Mas com o tempo, acho que eles já me reconhecem e, mesmo no latido mais bravo, já sinto certa familiaridade.

Mesmo que seja a terceira ou quarta vez que me vêem no dia, eles me recebem com o mesmo alvoroço de horas atrás. Alguns, eu já cumprimento pelo nome, embora não faça idéia de como o seu dono se chama. Outros, eu mesma invento apelido, como o Rouco, um Rottweiler preto e muito bravo que tinha um rosnado grosso e um latido rouco. Mas ele se mudou da rua há alguns meses.

Tem um certo cachorro que me provoca broncas e risadas. O leitor me desculpe a ignorância, mas não sei bem como o dono escreve o nome de seu amigo. Vou chamá-lo do mesmo jeito que eu ouço pelo portão: É o Piti, um cão de alarme – muitas casas também têm cães desse tipo.

O Piti sempre me dá um enorme susto quando passo distraída em frente ao seu portão. O pior é que a Safira, uma do tipo Pastor Alemão, mora bem em frente ao tal cãozinho, então, automaticamente eu vou caminhando do lado oposto da calçada dela, para frente do portão do Piti. E sempre distraída. Não dá outra... o portão é discreto e o Piti é pequeno e astuto, só late quando eu estou bem pertinho dele, que é pra me surpreender melhor. Tem dia que saio xingando, tem dia que saio sorrindo de mim mesma, por cair na mesma armadilha de novo. Acho que ele se diverte com isso, só pode. E é um latido fino, alto e estridente, que me faz dar um pulo gigante de susto, toda vez.

Só que nos últimos dias o Piti anda sumido. Há tempos não late, não me assusta. Primeiro estranhei o silêncio do portão, depois achei bom, mas agora... Será que ele se mudou, adoeceu ou só resolveu me deixar em paz? Puxa, não é que ando sentindo falta do cachorro do vizinho?


Diândria Daia, Dezembro de 2008

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