17 de dezembro de 2008

Carta de desamor

Chega. Cansei de ser o homem afoito que cerca a virgem mocinha. Tantas vezes você me disse que é egoísta, que pensa primeiro em você, no seu trabalho, que não serve para amar... Todas as vezes fingi não entender o recado, fingi não entender que eu não sirvo para ser o seu amor. Mas essa noite um lampejo de lucidez - ou de loucura extrema, não sei distinguir - clareou meus pensamentos. Não quero mais correr e não alcançar. Isso não tem fim.

Lembrei-me que, quando criança, morei numa vila chamada Telebrasília, próxima à L2 sul, numa casa simples de quintal enorme. Havia um descampado atrás da minha casa e muitas casinhas de madeira na rua abaixo à esquerda, e eu vi o arco-íris. Ele brilhava mais que em outros dias e estava tão grande e tão perto que eu tinha certeza que poderia tocá-lo.

Havia uma chuva fina que logo foi cessando e eu saí de casa correndo, disposta a tocar a ponta do arco-íris. Ele parecia estar bem ali, detrás das casinhas descendo à esquerda. E eu corri. Ele ficou ainda mais perto, mas eu tinha me enganado, ele estava mais abaixo um pouco das casinhas. Contornei a rua e quando ceguei lá, ele continuava lindo e brilhante, mas estava na parte mais embaixo ainda, e eu corri mais e mais e mais.

Quando achei que estava bem perto, o arco-íris ficou mais claro, mudou de posição, dava para o lado do descampado. Meu primeiro ímpeto foi continuar correndo, mas me dei conta de quão distante estava da minha casa. Tive medo, vi que aquilo não teria fim, eu jamais poderia tocá-lo.

E você é assim; a ponta do meu arco-íris. Então basta! Agora eu serei a egoísta, eu é que vou me preocupar primeiro comigo, meu emprego, meus estudos, minhas coisas. Vou guardar meu coração. Nem mesmo seu jogo de cores pode me enganar mais uma vez, aprendi a ler seus sinais.

Explodam com todos os tesouros, fadas ou lendas além do arco-íris, porque prefiro o calor verdadeiro que o sol me causa e prefiro o céu de imenso azul e prefiro o frescor das chuvas. Mas não se espante comigo, aproveite o seu domingo para se recuperar e a sua segunda-feira para recomeçar. Pode ser que muitas coisas boas te esperem; eu, não mais.




Diândria Daia, Dezembro de 2008

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